A Tupperware Brands, fabricante dos famosos potes de plástico, entrou com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos nesta terça-feira (18).
O pedido de proteção contra falência, feito pelos termos do Capítulo 11 da Lei de Falências norte-americana, vem em meio às crescentes perdas e dificuldades financeiras reportadas pela companhia. Há tempos a empresa tenta negociar uma dívida de mais de US$ 700 milhões (aproximadamente R$ 3,9 bilhões).
Em comunicado divulgado ao mercado, a Tupperware informou que continuará a operar e a gerir suas propriedades, ao mesmo tempo em que buscará iniciar o processo de venda do negócio.
“A empresa também buscará aprovação do Tribunal para facilitar um processo de venda para o negócio, a fim de proteger sua marca icônica e avançar ainda mais a transformação da Tupperware em uma empresa digital liderada por tecnologia”, informou a companhia em nota oficial.
Para isso, a empresa disse buscar a aprovação de “moções operacionais e administrativas” com medidas que visam minimizar o efeito sobre os funcionários, fornecedores “e outras partes interessadas” — tais como o pagamento de salários e de débitos de determinados vendedores e fornecedores —, além de permitir que a empresa continue a honrar suas obrigações fiscais.
Em nota, a presidente da Tupperware, Laurie Ann Goldman, afirmou que a posição financeira da companhia foi “severamente afetada” pelo ambiente macroeconômico nos últimos anos.
“Exploramos inúmeras opções estratégicas e determinamos que este é o melhor caminho a seguir”, disse a executiva.
“Esse processo tem como objetivo nos fornecer flexibilidade essencial à medida que buscamos alternativas estratégicas para dar suporte à nossa transformação em uma empresa digital, liderada por tecnologia, melhor posicionada para atender nossos stakeholders”, completou Goldman.
Os problemas financeiros da Tupperware não são de agora: há anos a empresa alerta sobre sua dificuldade em continuar com suas atividades.
No ano passado, por exemplo, a empresa emitiu um comunicado informando que existem “dúvidas substanciais” sobre sua capacidade de continuar operando, indicando que já enfrentava dificuldades financeiras que, caso não fossem resolvidas, poderiam levá-la à falência.
À época, a empresa informou que poderia deixar de cumprir cláusulas de contratos de crédito. Isso porque emendas estabelecidas ao contrato inicial tiraram a liquidez do caixa da empresa no curto prazo.
Simplificando: a Tupperware fechou três contratos de crédito que foram firmados com credores em novembro de 2021:
-uma linha de crédito rotativo com garantias, de US$ 220 milhões;
-um empréstimo a prazo, de US$ 400 milhões;
-outro empréstimo a prazo de US$ 200 milhões.
Todos os financiamentos tinham vencimento em julho de 2025. Acontece que os contratos foram revistos no início de 2023, de maneira que parte do crédito rotativo foi convertida em um empréstimo a prazo de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão). Assim, os recursos disponíveis para tomada nessa linha rotativa foram reduzidos.
A empresa ainda explicou que a novidade no contrato também estabelecia juros progressivos ao longo do tempo para os créditos tomados pela empresa. Estava prevista a possibilidade de um adicional de 4,75 pontos percentuais (p.p.) a depender do índice de alavancagem da companhia — a alavancagem é um indicador que mostra o quanto a empresa depende de capital de terceiros para manter sua operação.
Com o caixa apertado e perspectiva ruim com o cenário econômico desafiador, a empresa sinalizou que poderia descumprir as cláusulas, o que a tornaria inadimplente. A inadimplência confere ao credor a possibilidade de exigir o reembolso dos empréstimos pendentes e restringir futuras concessões de recursos.
Plano de reestruturação
Diante desse cenário, a empresa formulou um plano de reestruturação de negócios, indicando que contratou consultores financeiros e que participava de discussões com potenciais investidores para encontrar um financiamento e seguir com as atividades.
Além disso, a empresa ainda havia informado que estaria “revisando seu portfólio de imóveis” e avaliando possíveis vendas, alienações ou arrendamentos (quando a empresa cede o direito de uso do imóvel por um determinado período), como forma de tentar monetizar seus ativos.
Caso a companhia não conseguisse negociar com credores ou caso não obtivesse os recursos suficientes para manter suas operações, a empresa também já havia afirmado que precisaria “modificar suas operações e reduzir os gastos a um nível sustentável”.
Na tentativa de dar a volta por cima, ainda no ano passado, a empresa chegou a substituir a presidência da companhia e vários membros do conselho de administração. Em junho deste ano, chegou a fazer planos para fechar sua única fábrica nos Estados Unidos e demitir quase 150 funcionários.
Notificação da NYSE
Em meio aos problemas financeiros, a empresa havia recebido, no ano passado, uma notificação da Bolsa de Valores de Nova York (NYSE, na sigla em inglês), indicando que a companhia não está em conformidade com as normas de listagem e que poderia ter o seu registro cancelado.
Isso aconteceu porque a empresa deixou de publicar seu relatório anual referente ao ano de 2022 junto à SEC (Comissão de Valores Mobiliários norte-americana).
Em abril deste ano, a empresa recebeu uma nova notificação da NYSE por também ter atrasado o arquivamento de suas demonstrações financeiras de 2023.
Por fim, diante dos últimos acontecimentos, a Bolsa de Valores de Nova York suspendeu as negociações das ações da Tupperware na última terça-feira, alegando preocupações com a situação regulatória da companhia. No dia anterior, em meio a notícias de que a empresa poderia entrar com pedido de falência, os papéis da companhia caíram mais de 57%.
A história da Tupperware
A história da Tupperware começa há mais de 50 anos, quando o químico e empresário Earl Tupper decidiu criar moldes com vedação hermética para recipientes de armazenamento de plástico, em 1946.
Mas a história da companhia só mudou realmente quando o empresário conheceu Brownie Wise, uma ex-representante de vendas que criou um sistema de marketing chamado “planos de festas”, onde mulheres convidavam amigas e vizinhas e faziam uma combinação de evento social e apresentação de vendas.
Com isso, nasceram as demonstrações conhecidas como “Reuniões Tupperware®️”, onde as consultoras da companhia mostravam e ensinavam suas clientes a utilizar os produtos. No Brasil, a empresa chegou em 1976.
Atualmente, os recipientes vendidos por aqui são produzidos em uma fábrica no Rio de Janeiro.
Com informações do G1