
Em 2025, a procura global por ouro se intensificou, impulsionada por incertezas geopolíticas, questões monetárias e a expectativa de cortes de juros nos EUA. O metal precioso se reafirmou como o porto seguro preferido dos investidores. Esse movimento é notavelmente visível no mercado de ETFs (fundos negociados em bolsa) de ouro. Segundo o World Gold Council (WGC), os ETFs com lastro físico em ouro registraram o melhor trimestre de sua história, com um fluxo líquido de US$ 26 bilhões (R$ 140,14 bilhões) entre julho e setembro.
O trimestre em questão marcou o maior fluxo de entrada trimestral da história dos ETFs de ouro, elevando o total de ativos sob gestão para US$ 472 bilhões (R$ 2,54 trilhões) no final do período. Esse desempenho recorde foi resultado de uma combinação de fatores, incluindo a desvalorização do dólar, a contínua incerteza em relação à política monetária dos EUA e a persistência dos riscos geopolíticos globais. Além disso, o CEO da iHUB Investimentos, Paulo Cunha, ressalta que esse crescimento reflete mais o interesse do investidor de varejo do que o de grandes players, já que bancos centrais e instituições geralmente optam por outras formas de investimento, como derivativos ou compra direta de ouro físico.
Novo Índice da B3 Acompanha o Interesse Crescente pelo Ouro
A B3 capitalizou o aumento global e nacional no interesse pelo ouro ao lançar, na terça-feira (21), o Índice Futuro de Ouro B3 (IFGOLD B3). O novo indicador visa fornecer ao mercado uma métrica precisa para avaliar o desempenho do contrato futuro de ouro, que é negociado na bolsa brasileira, e assim expandir as oportunidades de investimento neste metal precioso.
O IFGOLD B3 é construído com base no primeiro vencimento do contrato futuro de ouro (ticker GLD), com sua variação de valor calculada diariamente. A metodologia assegura que o índice reflita fielmente o mercado, incorporando critérios estritos de liquidez e um sistema de renovação automática dos contratos antes de seus vencimentos.
A criação do índice reflete um momento de alta demanda pelo ouro, que tem atraído investidores no Brasil. Desde seu lançamento em julho, o contrato futuro da commodity tem mostrado um aumento constante de liquidez, culminando em um volume recorde de 6.586 contratos negociados em um único dia em setembro, confirmando a relevância desta nova via de investimento.
Apesar do entusiasmo, o metal precioso sofreu um ligeiro recuo recentemente: o valor da onça-troy (medida internacional equivalente a 31,1 gramas) caiu para US$ 4.100 (cerca de R$ 22 mil) na mesma terça-feira (21), após ter ultrapassado os US$ 4.300 (cerca de R$ 23,17 mil) em valorizações sucessivas.
preço do metal demonstrou uma instabilidade notável, tanto em sua queda quanto em sua valorização, e o motivo por trás dessa variação foi igualmente inconstante. A interpretação é que o mercado foi tomado pelo otimismo em relação à grande chance de um acordo comercial entre os Estados Unidos e a China.
Esse cenário impulsionou a valorização do dólar frente a outras moedas, levando os investidores a buscarem aplicações de maior risco e a relegarem a segurança do ouro para segundo plano, conforme explicou Mauriciano Cavalcante, diretor de ouro da Ourominas.
No entanto, essa conjuntura pode mudar rapidamente, refletindo a própria volubilidade de Donald Trump ao anunciar novas tarifas, sanções e outras medidas, cujos efeitos podem influenciar, positiva ou negativamente, o mercado global.
Desempenho Global
Segundo dados do Conselho Mundial do Ouro, as Américas lideraram os novos investimentos no metal, com uma injeção de US$ 16,1 bilhões (equivalentes a R$ 86,8 bilhões). Nos Estados Unidos, a procura por proteção foi reforçada pela combinação da queda nos rendimentos reais e a perspectiva de paralisação do governo.
Na Europa, as compras somaram US$ 8,2 bilhões (R$ 41,2 bilhões), com Reino Unido, Alemanha e Suíça à frente. O continente viu um aumento expressivo na demanda em meio a temores de estagflação e erosão do poder de compra.
Já na Ásia, China, Japão e Índia sustentaram o ritmo, com forte interesse em ouro diante da volatilidade das moedas locais.
O “apetite” da onça
O preço do ouro acompanhou o movimento e atingiu sucessivos recordes. Só no mês de setembro, o metal registrou 13 novas máximas históricas, impulsionando o volume diário de negociação global para uma média de US$ 388 bilhões (R$ 2 trilhões), alta de 34% em relação ao mês anterior.
Num intervalo de menos de cinco anos, o valor onça mais do que dobrou. Em 2000, ele era negociado a US$ 1.850 (R$ 9.250), valor que chegou aos atuais US$ US$ 4.178,23 (R$ 22.514,61), em valores das 15h desta terça.

Quando o comparativo é entre o final de 2024 e o valor atual, a evolução chega a 45,8%.

O apetite dos bancos centrais
Um relatório da Goldman Sachs Research do final de setembro indica que são dois os tipos de compradores de ouro: os convictos, que tendem a comprar o metal consistentemente, independentemente do preço, com base em sua visão da economia ou para se proteger de riscos. Quem está incluso nesse grupo são os bancos centrais, os fundos negociados em bolsa (ETFs) e especuladores.
No segundo grupo estão os chamados “compradores oportunistas”, com famílias em mercados emergentes, que intervêm quando acreditam que o preço está adequado.
O mesmo relatório do Goldman indica que os bancos centrais compraram 64 toneladas de ouro por mês neste ano. E a tendência é a de que comprem ainda mais, já que uma pesquisa do World Gold Council indicou que 95% dessas instituições disseram que as reservas globais de ouro aumentarão nos próximos 12 meses.
Estatísticas do Fundo Monetário Internacional compiladas pelo World Gold Council revelam que os Estados Unidos lideram as reservas, com 8.133 toneladas, seguido por Alemanha, com 3.350 toneladas e Itália, com 2.451 toneladas. O Brasil aparece na 23ª posição do ranking, com 129 toneladas.

A alta é só hype?
Para o Goldman Sachs Research, essa alta do ouro não é modinha. E isso se deve ao posicionamento especulativo em mercados de derivativos por grandes investidores, como fundos de hedge, que se mostram bem otimistas em relação ao ouro.
Esses “compradores oportunistas” são os mais sensíveis ao chamado “efeito manada”. Eles olham a subida do ativo e não querem ficar de fora. Esse comportamento reflete justamente esse movimento especulativo, muito parecido com o que ocorreu em ativos como o bitcoin: reações fortes tanto nas altas quanto nas quedas, muito influenciadas pelo sentimento do investidor, segundo análise de Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos.
É um movimento bem diferente daquele mais estrutural, observado quando bancos centrais começaram a aumentar suas posições como forma de proteção contra a inflação. “E, por isso mesmo, se houver uma correção mais ampla no mercado, não seria surpresa ver o ouro cair junto, justamente por estar sendo impulsionado agora por um comportamento muito mais emocional do que racional”, afirma Cunha.
Com informações de Forbes.