A edição 132 da Forbes Brasil, que já está disponível no aplicativo da revista, traz, pela segunda vez, a Lista Forbes Melhores CIOs.
Com a tecnologia ocupando o epicentro dos processos produtivos, das decisões estratégicas e, de forma mais ampla, da reconfiguração do mercado global em virtualmente todas as suas nuances, cresce na mesma proporção a relevância dos profissionais dedicados a criar, conduzir e aprimorar o arcabouço tecnológico de suas empresas.
Cresce também a importância desta lista Forbes Melhores CIOs do Brasil, que não só homenageia as 10 lideranças perfiladas a seguir como também extrai de cada um deles sua percepção de presente e futuro pelas lentes do turbilhão de inovação que vivemos.
Conheça a seguir 10 CIOs que vivem no epicentro da transformação tecnológica:
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Foto: Victor Affaro
Angela Freitas – CIO da Johnson & Johnson
Quase 20 anos de experiência em tecnologia e transformação digital, sendo 16 deles dedicados à indústria da saúde: essa é a expertise de Angela Freitas, CIO da Johnson & Johnson MedTech Brasil. À frente da área de tecnologia, ela lidera projetos que integram inteligência artificial, dados e inovação digital para transformar a jornada do paciente e ampliar o impacto positivo da companhia no sistema de saúde.
“Ser CIO hoje é atuar na interseção entre estratégia, inovação e cultura organizacional”, afirma. Para ela, o papel da tecnologia vai além da operação: trata-se de um meio para gerar valor sustentável, com impacto direto na vida das pessoas. “O sucesso da área de tecnologia é o sucesso do negócio em si, e não podem existir objetivos desconectados.”
Sua trajetória começou cedo, aos 15 anos, dando aulas de reforço em exatas em Peruíbe, no litoral sul de São Paulo. Foi ali, com um computador IBM Aptiva comprado com meses de salário do pai, que ela começou a programar e descobriu o poder transformador da tecnologia. Aos 19 anos, foi aprovada em um processo seletivo da Accenture, o que a levou a mudar de cidade e iniciar uma carreira que abriu portas para o mundo.
Angela passou por empresas como Novartis, AbbVie e Gartner, onde atuou como diretora sênior de serviços executivos, atendendo as principais instituições de saúde do país. Sua entrada na indústria farmacêutica foi um divisor de águas: “Percebi que a tecnologia pode impactar milhões de pacientes.” Um dos momentos mais marcantes foi o relato de uma paciente que, graças a uma solução digital implementada por sua equipe, conseguiu finalmente um diagnóstico após 10 anos de busca.
Na Johnson & Johnson, está à frente do projeto com o Hospital Nove de Julho, reconhecido globalmente pelo uso de IA no diagnóstico de fibrilação atrial. Também atua em iniciativas como a Jornada Digital do Paciente, que mapeia o tratamento de câncer colorretal com apoio de IA, reduzindo complicações e melhorando desfechos clínicos. “A IA permite maior previsibilidade, tratamentos mais integrados e melhores resultados para os pacientes”, explica.
Além da atuação executiva, Angela é professora convidada do MBA em gestão de TI do Hospital Albert Einstein e concluiu o programa Lead de Liderança e Inovação da Universidade de Stanford. “Mesmo em uma área técnica, competências humanas e de liderança são fundamentais”, afirma.
Seu legado é guiado por dois princípios: entender profundamente o problema antes de buscar soluções e sempre considerar a perspectiva do outro – seja o cliente, o mercado ou o paciente. “A saúde tem muitos desafios, e eu espero continuar contribuindo para que ela seja melhor e mais acessível a todos nós.” (LP)
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Foto: Victor Affaro
Cíntia Barcelos – CTO do Bradesco
Ela ocupa um dos cargos mais estratégicos do setor financeiro brasileiro. Engenheira eletrônica formada pela UFRJ, Cíntia Scovine Barcelos iniciou sua carreira na IBM, onde permaneceu por quase 30 anos e onde se tornou a primeira mulher da América Latina a receber o título de Distinguished Engineer, um dos mais altos reconhecimentos técnicos da companhia.
Desde 2021, lidera a frente de tecnologia do Bradesco, sendo responsável por áreas como infraestrutura, computação em nuvem, operações, cibersegurança, arquitetura de soluções e inteligência de dados. À frente de um time de mais de 10 mil pessoas, ela conduz a modernização tecnológica do banco, com foco em segurança, eficiência e inovação. “A tecnologia precisa atuar junto com o negócio, viabilizando e direcionando a estratégia da organização”, afirma.
Sob sua liderança, o Bradesco intensificou os investimentos em cibersegurança e passou a adotar tecnologias como inteligência artificial generativa e computação em nuvem em larga escala. A entidade virtual BIA, por exemplo, já atende mais de 24 milhões de clientes com IA generativa, enquanto a plataforma BIA Tech, voltada para em desenvolvedores, têm gerado ganhos de produtividade de até 40%. “Estamos fazendo uma transformação tecnológica profunda, com entregas tangíveis – e com o cliente no centro”, diz.
A estratégia AI-first do banco também inclui o uso de multiagentes de IA para acelerar a modernização de sistemas e apoiar áreas como modelagem de crédito, com impacto estimado de até R$ 250 milhões ao ano. A aquisição da Kunumi, em 2024, reforçou essa ambição ao incorporar ao banco um dos times mais avançados de ciência de dados do país.
Além da inovação, Cintia tem papel central na formação de talentos e na promoção da diversidade. “Precisamos investir em upskilling e reskilling dos times, criar um ambiente de aprendizado contínuo e atrair novas talentos em áreas como cloud, IA e segurança”, destaca. Ela também é uma voz ativa na inclusão de mulheres na tecnologia, causa que abraça desde os tempos de IBM. “Nunca disse não a uma mulher que me pediu ajuda. Me sinto responsável por apoiar e trazer mais mulheres para o setor.”
A CTO do Bradesco foi reconhecida como “Personalidade Financeira – Tecnologia 2024” no prêmio Banking Transformation e é coautora de diversas publicações sobre inteligência artificial e liderança feminina em tecnologia. Para ela, o papel do Chief Technology Officer vai além da entrega técnica: “É preciso criar um ambiente seguro, conectado ao negócio, que habilite a experimentação e a tolerância a falhas. A tecnologia está em constante disrupção – e nós também precisamos estar.” (LP)
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Foto: Victor Affaro
Claudia Meira – CIO da Unilever Brasil
Como líder de tecnologia da Unilever Brasil e América Latina, ela é parte fundamental da transformação digital de uma das maiores empresas de bens de consumo do mundo. Sua trajetória é marcada por uma visão estratégica que une inovação, eficiência e impacto social – pilares que guiam sua atuação em um setor cada vez mais orientado por dados, inteligência artificial e sustentabilidade.
“O papel do CIO é o de um líder estratégico, que influencia decisões, antecipa tendências e cocria soluções com impacto direto no negócio”, afirma. Para ela, a tecnologia deixou de ser suporte e passou a ser protagonista da transformação empresarial. Na Unilever, isso significa atuar como um conector entre áreas, traduzindo do técnico para o estratégico e promovendo ambientes colaborativos e seguros para inovar com consistência.
Antes de chegar à Unilever, Claudia passou por empresas como Unibanco, Gol e Avon, onde atuou por 16 anos, sendo os últimos como CIO Brasil. Em 2021, assumiu o desafio de liderar o time de TI da Unilever na região com a missão de impulsionar a digitalização da companhia. Desde então, tem estruturado times multidisciplinares e acelerado projetos que conectam tecnologia ao crescimento sustentável do negócio.
Sob sua liderança, a Unilever tem intensificado o uso de dados e inteligência artificial para aprimorar a experiência do consumidor, otimizar a cadeia de suprimentos e fortalecer parcerias com o varejo. “Estamos utilizando insights para entender o comportamento das comunidades relevantes, aplicando soluções de gestão de receita e vendas, e automatizando processos logísticos com foco na excelência do serviço ao cliente”, explica.
Claudia também é uma voz ativa na discussão sobre o uso ético da IA. “A inteligência artificial precisa ser uma ferramenta de ampliação da inteligência, não apenas um substituto mecânico. É preciso ter consciência e coerência para alimentá-la a nosso favor, sem o impacto dos vieses e com respeito e empatia”, afirma.
Além da atuação técnica, a executiva defende a importância da diversidade e da liderança feminina no setor de tecnologia. Coautora de livros sobre mulheres em TI, ela acredita que a curiosidade e a persistência são essenciais para crescer na área. “Todos os dias me pergunto: ‘O que eu vou aprender hoje?’” Para ela, o Brasil tem atributos únicos – criatividade, flexibilidade e resiliência – que, quando usados com “coragem e propósito”, colocam o país em posição de protagonismo na agenda global de inovação. (LP)
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Foto: Diego Mello
Cristiane Gomes – Diretora de tecnologia e digital Motiva
Com mais de 25 anos de experiência em tecnologia, negócios e liderança, Cristiane Gomes é uma das principais executivas do setor de infraestrutura no Brasil. CIO e diretora de tecnologia e digital da Motiva (novo nome do Grupo CCR), ela lidera a transformação digital de uma companhia que opera mais de 3.600 quilômetros de rodovias, 130 estações de metrô e trem e 20 aeroportos no Brasil e no exterior. Sob sua gestão, a empresa investiu mais de R$ 500 milhões em inovação e digitalização nos últimos anos.
Cristiane já ocupou cargos como CEO da CCR Aeroportos e da CCR AutoBAn, além de ter presidido a CCR EngelogTec, centro de excelência em tecnologia operacional e da informação. Sua trajetória inclui ainda a liderança de grandes projetos como a implantação simultânea de 16 aeroportos no Brasil em 2021 e o desenvolvimento de soluções pioneiras como o sistema de pedágio free flow e os trens driverless da Linha Amarela do metrô de São Paulo.
“Ser CIO é estar à frente de de transformações. O maior desafio não é apenas acompanhar a velocidade da inovação tecnológica, mas garantir que ela esteja profundamente conectada à estratégia do negócio”, afirma. Para ela, a tecnologia deve gerar valor sustentável, impactando positivamente a vida das pessoas, o planeta e os resultados da empresa.
Graduada em matemática, com mestrado em engenharia de produção e certificações em transformação digital pelo MIT, Cristiane também é mentora de líderes do futuro e membro do conselho consultivo do InfraWomen Brasil. Sua atuação é marcada pela convergência entre IT e OT (tecnologia da informação e da operação), com foco em eficiência, segurança e experiência do usuário.
Além da bagagem técnica, Cristiane carrega um compromisso com a diversidade e a inclusão. “Liderar tecnologia é liderar pessoas e, como mulher, carrego comigo a responsabilidade e o privilégio de inspirar e criar oportunidades para outras mulheres no setor e na profissão”, diz. Ela acredita que desenvolver times diversos e uma mentalidade digital em toda a companhia é essencial para garantir inovação com ética e responsabilidade.
Cristiane também atuou como professora universitária e orientadora acadêmica, reforçando seu papel como formadora de talentos. Sua visão de liderança combina estratégia, sensibilidade e execução. “Tecnologia é vetor de eficiência, mas também de transformação humana. É sobre conectar inovação com propósito.” (LP)
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Foto: Diego Mello
Cristina Cestari – CIO da Volkswagen
Cristina Cestari é uma das principais lideranças femininas em tecnologia no setor automotivo da América Latina. Com mais de 36 anos de carreira, ela assumiu em 2022 o cargo de Chief Information Officer (CIO) da Volkswagen para a América do Sul, tornando-se responsável por conduzir a transformação digital de uma das maiores montadoras da região. A executiva integra o comitê executivo da marca e responde diretamente ao COO da Volkswagen do Brasil e ao chairman da operação sul-americana.
Graduada em processamento de dados pela Fatec-Santos, com MBA em gerenciamento de processos pela ESPM e formação em governança pelo IBGC, Cristina construiu sua trajetória na interseção entre tecnologia, estratégia e negócios. Atuou por 20 anos no Banco Itaú e, posteriormente, liderou as áreas de TI e operações da Brasil Warrant Investimentos. Sua experiência em ambientes altamente regulados e orientados aos dados a preparou para os desafios de uma indústria em plena transição para a mobilidade conectada, elétrica e digital.
“Ser uma CIO mulher é, sem dúvida, um desafio – mas também uma grande oportunidade”, afirma. Cristina lidera a operação da Volkswagen com foco em eficiência, inovação e experiência do cliente. Sua atuação vai além da tecnologia: ela promove uma mudança cultural em um setor historicamente masculino e hierárquico. “Assumir esta posição vai muito além dos KPIs, é um exercício do diário de liderança, que passa por decisões e pela condução de novos referenciais, sejam eles técnicos ou humanos.”
Entre suas prioridades, estão a introdução de inteligência artificial e automação de forma responsável, a modernização de processos e a preparação da companhia para o futuro da mobilidade. Cristina também defende uma liderança mais empática e inclusiva. “A presença feminina na liderança tecnológica traz uma visão mais holística, conectando dados, pessoas e propósito.”
Sua trajetória é marcada por entregas relevantes e por uma visão clara de que inovação só é possível com diversidade e coragem. “Ser mulher, mãe e executiva em um setor ainda predominantemente masculino nunca foi sobre provar algo aos outros, mas sobre seguir fiel aos meus valores e abrir caminhos para quem vem depois.”
Mãe de trigêmeos, ela foi promovida ao cargo de C-Level durante a gestação. “Conciliar uma carreira de alta responsabilidade com a maternidade múltipla não é simples, mas me ensinou o que nenhuma escola de liderança ensina: a força da empatia, da escuta e da resiliência.”
Hoje, ela lidera a transformação digital da Volkswagen com a convicção de que tecnologia é feita por pessoas e para pessoas. “Tenho o privilégio e a responsabilidade de contribuir com essa mudança, guiando os times e preparando a companhia para o futuro da mobilidade e da conectividade.” (LP)
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Foto: Victor Affaro
Felipe Monteiro – CIO da GSK
Felipe K. M. (como gosta de assinar) lidera a área de tecnologia da GSK Brasil, uma das maiores farmacêuticas do mundo. Como CIO, ele atua na linha de frente da transformação digital da companhia, com foco em acelerar descobertas científicas, ampliar o acesso à saúde e melhorar a experiência de pacientes, profissionais e colaboradores.
Para ele, o papel da tecnologia vai além da estabilidade operacional: trata-se de uma ferramenta para gerar valor real para a sociedade. Na GSK, isso se traduz no uso de dados e análises avançadas para apoiar decisões clínicas e operacionais, além de fomentar uma cultura de aprendizado contínuo e inovação responsável.
Felipe é formado em sistemas de informação pela Universidade Paulista, com MBA pela Fundação Getúlio Vargas e especialização em gerenciamento de projetos por Stanford e Universidade de Lerne. Sua trajetória inclui posições de liderança em empresas globais, como Bayer, AbbVie, Eli Lilly, Johnson & Johnson e Tupperware, sempre com foco em transformação digital em mercados emergentes e operações complexas. Também foi cofundador de uma consultoria em estratégia digital Tree ID, experiência que reforçou sua visão prática sobre inovação.
Na GSK, ele aplica essa bagagem para integrar ciência, tecnologia e talento humano em uma estrutura orientada por propósito. “A tecnologia pode acelerar descobertas, ampliar o alcance das soluções em saúde e contribuir com um sistema mais eficiente, inclusivo e centrado no paciente”, diz. Ele também destaca a importância da governança digital, da segurança da informação e da preparação de times para um ambiente regulado e dinâmico, em linha com o que a companhia afirma em seu site global: “Estamos trabalhando para revolucionar a saúde, usando dados de ponta e tecnologias de plataforma”.
“A tecnologia de dados nos ajuda a obter uma compreensão profunda do paciente, da biologia humana e dos mecanismos da doença. Por meio do uso de dados genéticos, IA e machine learning, podemos desvendar os mistérios da doença para projetar nossas vacinas e medicamentos para otimizar seu efeito clínico.”
Felipe acredita, por fim, que o CIO moderno precisa combinar visão sistêmica, empatia e coragem para transformar. “É uma função que exige mais do que conhecimento técnico. Exige sensibilidade para conectar pessoas, dados e propósito em um cenário de constante mudança.” (LP)
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Foto: Victor Affaro
Igor Freitas – CIO/CTO da Cogna Educação
Em 1975, aproximadamente 930 mil pessoas nasceram na África do Sul. Entre elas, estava aquele que seria, 49 anos depois, o vice-presidente de tecnologia da Cogna Educação. Filho de missionários religiosos, Igor Freitas foi naturalizado brasileiro aos 2 anos, quando os pais retornaram de um trabalho humanitário em que atuavam com refugiados das guerras civis de Angola e Moçambique. “Isso fala um pouco de mim: eu mudei bastante de endereço, morei em vários estados e cidades do Brasil.”
E o executivo aprendeu a gostar de mudanças. Nas últimas duas décadas, empreendeu, foi fornecedor de infraestrutura tecnológica e desenvolvedor. Em seguida, passou para o “outro lado do balcão” e assumiu o posto de gerente de sistemas no Itaú Unibanco – de onde saiu em 2019 como superintendente de arquitetura corporativa para ser Chief Information Officer. “Eu resolvi dar um passo na minha carreira e virar CIO. A primeira experiência foi na Livelo. A empresa confiou em mim e eu acreditei que seria capaz.”
A jornada recente inclui experiências na XP, como head de transformação digital, e na ZAMP, como VP de tecnologia e inovação. Na Cogna desde o início de 2024, Freitas vê na educação uma oportunidade inédita de gerar impacto. “Quando você vende uma mercadoria, um produto financeiro, é bacana. Mas quando você transforma o potencial de uma pessoa, da infância à vida adulta, por meio de soluções tecnológicas, é revolucionário.”
Hoje, o desafio do CIO (e CTO) da instituição é tocar uma equipe de 600 profissionais que, juntos, viabilizam uma operação com mais de 70 marcas, 3 milhões de alunos, 5 mil escolas, 80 mil métodos e 50 milhões de livros. “O meu grande projeto é viabilizar, de maneira eficiente e coordenada, a melhor infraestrutura digital possível para que os estudantes consigam, de verdade, usufruir dos nossos conteúdos.”
Com uso de inteligência artificial em larga escala – foram cerca de 120 projetos no último ano -, equipes “tech” que trabalham de forma independente em produtos específicos e plataformas integradas que vão do mobile à impressão, Igor diz que tudo na Cogna transcorre graças à tecnologia. “Não é uma área apenas demandada, nós efetivamente vivenciamos o negócio.”
A partir de um estilo de liderança participativo e não hierárquico, com um olhar especial para a técnica e planejamento estratégico, o executivo afirma que “independentemente do nível ou da especialidade”, quer que todos em seu time sintam que “estão fazendo a diferença onde atuam”.
“Não me arrependo nem por um minuto da minha vida por ter iniciado a carreira em tecnologia.” (CT)
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Foto: Diego Mello
Leila Zimmerman – CIO da Mondelez Brasil
Apesar da formação em administração de empresas pela Fasp (Faculdades Associadas de São Paulo), a carreira de Leila Zimmermann na tecnologia começou muito antes das aulas sobre Frederick Taylor, Peter Drucker e Henry Ford. Ainda na adolescência, a executiva teve seu primeiro contato com um computador – comprado pelo pai por meio de um consórcio – e, desde então, não abandonou o mundo dos códigos.
“O ponto de virada aconteceu quando, aos 16 anos, vi uma revista que listava as 100 melhores empresas para se trabalhar. Achei que poderia tentar a sorte e escrevi à mão cartas para todas. Só uma respondeu: a Xerox, onde fiz meu primeiro estágio.”
Há quase dois anos na Mondelez Brasil, companhia responsável por snacks presentes em 92% dos lares brasileiros, a CIO traz sua experiência em setores distintos (da saúde à energia) para concretizar a ambição da empresa de atingir o status de data-driven até 2030.
“Criamos o Data Hub Lighthouse, que centraliza nossas informações na nuvem, o que permite unificar indicadores de performance, democratizar o acesso à informação com eficiência e governança e acelerar a criação de soluções”, diz Zimmermann.
Para não perder a crista da onda, a instituição – que emprega cerca de 7.500 pessoas no país – conta com a equipe da CIO para impulsionar ferramentas de inteligência artificial. “Atuamos com IA, por exemplo, no planejamento integrado de supply chain. A tecnologia possibilita insights precisos acerca de produtos, produção e go-to-market, acelerando as decisões de negócio.”
Se, no começo, ser mulher em um ambiente majoritariamente masculino significava ter de provar sua competência a cada passo, hoje a liderança da executiva é baseada em “escuta, conexão e respeito”.
Para ela, a inovação surge onde é possível compartilhar ideias e cometer erros. “Nosso foco é testar, aprender e escalar soluções que realmente tragam impacto prático. A tecnologia deixou de ser suporte e se tornou protagonista das estratégias de crescimento.” (CT)
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Foto: Diego Mello
Rodrigo Nardoni – VP de tecnologia e CIO da B3
Se não fosse pelo Pix, que é administrado pelo Banco Central, seria possível afirmar que todo o dinheiro do país passa, passou ou passará pelos sistemas liderados (e até mesmo desenvolvidos) por Rodrigo Nardoni, vice-presidente de tecnologia e Chief Information Officer (CIO) da B3. A trajetória do executivo no mercado financeiro começou em 1998, quando decidiu migrar de um ambiente técnico para um setor em que a tecnologia não fosse vista apenas “como despesa, mas como essência do negócio”. “Trabalhei por dois anos no Bradesco, depois mais dois no Citibank, até chegar na BM&FBovespa em 2002”, lembra.
Pai de duas filhas, Rodrigo se descreve como um “jovem de 52 anos apaixonado por tecnologia”. Por outro lado, a formação em análise e desenvolvimento de sistemas na PUC Campinas precisou de uma pequena intercorrência para acontecer: “Minha mãe decidiu que eu estudaria tecnologia, e eu fui de coração aberto”. A família se beneficiou da escolha – até a padaria de seu pai recebeu um software financeiro.
O trabalho “de filho para pai” (de grande valor, é claro) não se compara, no entanto, à empreitada colossal que o CIO enfrentaria ao comandar uma equipe de 1.300 pessoas, responsável por toda a infraestrutura tecnológica da bolsa de valores brasileira, que lida, diariamente, com trilhões de reais e milhões de clientes famintos por seus ativos.
Ao relembrar o caminho que percorreu até chegar a esse patamar de liderança, Rodrigo comenta sobre a iniciativa de unificação do sistema de clearings (câmaras de compensação), dividida em três etapas e que levou seis anos para ser concluída, entre 2011 e 2017. “Aliás, esses são os três maiores projetos da minha vida: a clearing de ativos, a primeira clearing combinada e a junção de derivativos mais ações, com um sistema de risco único, feito em casa.”
Os avanços não pararam na última década. E nem poderiam. Afinal, “a tecnologia é o que viabiliza o negócio da B3”. A migração completa para a nuvem, em parceria com a Oracle e Microsoft, a implementação de inteligência artificial no dia a dia da companhia, o uso de dados para a criação de novos produtos, a parceria com universidades… nada disso é suficiente, pois, para o CIO, a “inovação precisa ser constante”.
“Meu papel aqui é ser um catalisador; minha missão é que meu time consiga caminhar sozinho, que eu possa tirar férias e tudo continue funcionando. Nossa área tem o potencial de mudar o ponteiro: se o time estiver contente, você leva todo mundo para cima.” (CT)

Thiago Oliveira – CIO da Coca-Cola Femsa
Antes do som de uma lata de Coca-Cola sendo aberta chegar aos ouvidos do freguês sedento, há um trajeto longo e complexo envolvendo suprimentos, fábricas, centros de distribuição, lojistas e milhares de pessoas. Thiago Oliveira chegou à Coca-Cola Femsa, maior engarrafadora de produtos da marca norte-americana no mundo, com a missão, justamente, de simplificar os processos operacionais da vertical mexicana usando tecnologia.
“Na Coca-Cola Femsa, eu lidero um dos maiores ecossistemas tecnológicos da América Latina. Produzimos e distribuímos um portfólio composto por 134 marcas e alcançamos mais de 270 milhões de consumidores diariamente. Comercializamos aproximadamente 3,8 bilhões de caixas-unidade por ano, a partir de 2 milhões de pontos de venda.” Nos últimos sete meses, o executivo, que carrega 25 anos de experiência na bagagem, com passagens por gigantes latino-americanas como Itaú Unibanco, PicPay e Mercado Livre, levou para a companhia um “pensamento robusto e otimizável”.
O desenvolvimento de aplicações deu espaço para o de plataformas independentes, que conseguem, de fato, trazer resultados “em cenários de crise e escassez”. Entre os projetos está o programa Juntos+, que conecta a gigante de bebidas com varejistas na América Latina. “O lojista pode fazer o pedido no nosso aplicativo e, em dois dias, nós entregamos. Com as informações coletadas, a inteligência artificial é capaz de mapear hábitos de compra, sugerir mercadorias de maneira personalizada e otimizar a nossa gestão de estoque.”
Para Thiago, o topo da liderança tecnológica na multinacional não é o ponto final. “É um percurso, uma caminhada que foi construída com escolhas difíceis, noites em claro e decisões estratégicas.” Hoje, morando no México, a cerca de 7 mil quilômetros de sua cidade natal, Osasco (SP), ao olhar para trás, ele lembra de um passado longínquo (e não só fisicamente). “Cresci em um ambiente onde falar em tecnologia era quase utópico. O C-Level era algo distante da realidade de um jovem negro da periferia. Mas eu insisti.”
Entre as memórias emblemáticas, não estão reuniões com executivos globais – pequenas perto dos conselhos de seus pais, incentivando-o a “estudar e acreditar que, mesmo sem os acessos, o conhecimento poderia levá-lo longe”.
- Todos esses fatores contribuíram para uma liderança marcada pela responsabilidade social, aquela para além dos “bits e bytes”. “A tecnologia não existe sem propósito; ela não é um fim, é um meio para que eu possa agregar valor para a sociedade, para a empresa e para os meus clientes. Minha jornada só faz sentido quando eu abro portas para outras pessoas.” (CT)