Brasil no radar: Por que a Netflix perdeu US$ 30 bi em valor de mercado

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A divulgação do balanço trimestral da Netflix (NFLX) não agradou Wall Street, resultando em uma perda de aproximadamente US$ 33 bilhões no valor de mercado da empresa entre a noite de ontem e a manhã desta quarta-feira, 22. O Brasil foi apontado pela gigante do streaming como um dos principais responsáveis por essa reação negativa.

As ações da companhia chegaram a cair quase 8% no pré-mercado, às 9h27 (horário de Brasília), dando continuidade à desvalorização observada no after hours do dia anterior. O valor de mercado da empresa recuou de US$ 527,4 bilhões para US$ 490,7 bilhões no mesmo período. Apesar do revés, a Netflix reportou no terceiro trimestre um lucro de US$ 3,2 bilhões e uma receita de US$ 11,51 bilhões, 17,2% superior ao mesmo período do ano passado, acumulando alta de 39,2% no ano.

O Impacto do Brasil na Margem de Lucro

Em comunicação aos investidores, a Netflix informou que a margem de lucro foi impactada em US$ 619 milhões por uma “disputa em andamento com as autoridades fiscais brasileiras, que não estava na previsão”. O analista Paolo Pescatore, da PP Foresight, viu na questão tributária brasileira a causa direta para a queda de mais de 7% no overnight de terça-feira. Para ele, o desempenho operacional foi sólido, mas o custo inesperado ofuscou os resultados positivos. A própria Netflix estima que, sem o custo retroativo, teria superado suas metas de margem e rentabilidade.

Apesar desse obstáculo, a previsão da empresa para o quarto trimestre é de crescimento contínuo, com receita projetada em cerca de US$ 11,96 bilhões (superando levemente as expectativas dos analistas) e lucro por ação diluído de US$ 5,45.

Análise do Mercado: Culpa Dividida

Embora a receita e o crescimento operacional tenham sido fortes, o resultado ficou abaixo da euforia de trimestres anteriores. O JPMorgan, que cortou seu preço-alvo para US$ 1.275, reconhece que o litígio fiscal no Brasil gerou ruído, mas sustenta que o foco principal do mercado está na ausência de surpresas positivas na receita do segundo semestre. O banco minimiza o impacto, classificando a situação como um “ajuste retroativo no terceiro trimestre e de um custo contínuo de pouco mais de US$ 40 milhões por trimestre daqui para frente” (cerca de 0,5% do total de despesas da Netflix).

Geetha Ranganathan, da Bloomberg Intelligence, classificou os resultados como “decepcionantes”, notando que o mercado esperava um aumento na projeção de margem operacional para 2025 (de 30% para 31%-32%), mas a empresa, ao contrário, reduziu essa expectativa. Ela atribuiu grande parte desse recuo à surpresa negativa na margem do terceiro trimestre, especialmente considerando o forte calendário de lançamentos promovido pela própria empresa.

Apesar da mudança de estratégia da plataforma de focar em métricas de receita e lucratividade em vez do número de assinantes, a Netflix celebrou um “engajamento recorde”. Segundo Geetha, as horas assistidas e o engajamento geral subiram de 20% a 22% em relação ao mesmo período anterior, impulsionados por grandes títulos como K-pop Demon Hunters, Round 6 (3ª temporada) e Wandinha (2ª temporada). A empresa ainda aposta em fortes lançamentos para o final do ano, como a temporada final de Stranger Things e a transmissão de dois jogos da NFL (National Football League) no Natal, marcando uma nova incursão em esportes ao vivo.

O Cerne da Questão Fiscal no Brasil

A Netflix descreveu a disputa tributária no Brasil como um grande revés e uma falha inesperada. O impacto financeiro bilionário foi desencadeado por uma decisão de agosto do Supremo Tribunal Federal (STF), que validou a ampliação da cobrança da CIDE-Royalties (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre remessas internacionais relacionadas ao licenciamento de marcas e propriedade intelectual.

Este imposto de 10% incide sobre os pagamentos da subsidiária brasileira à matriz americana pelos direitos que permitem o funcionamento da plataforma no país. A empresa havia vencido uma disputa em instância inferior em 2022, o que a isentava da cobrança e a levou a não registrar a despesa em seus balanços. A decisão do STF reverteu o cenário, obrigando a Netflix a contabilizar o valor retroativamente para o período entre 2022 e o terceiro trimestre de 2025.

O CFO Spencer Neumann ressaltou que a cobrança não é exclusiva da Netflix nem do setor de streaming, alertando que outras empresas também poderão ser afetadas pela decisão judicial.

 

Com informações de Exame. 

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